A vida no cerrado
O livro narra a vida de uma pequena cidade no interior do nordeste, no cariri, mostrando como as pessoas viviam, como se davam as diversas relações entre fazendeiros e trabalhadores, entre homens e mulheres, etc.
Ao longo da narrativa, somos levados a acompanhar a trajetória de vida de Raimundo e Maria, sendo Raimundo vaqueiro da fazenda de Tobias, o maior fazendeiro e mais rico produtor rural da região. Conhecemos a vida de Maria a esposa, dona de casa e mãe, que no momento inicial da narrativa está grávida de mais um filho, que ao nascer receberá o nome de José.
A narrativa geral do livro gira principalmente em torno da vida de 5 personagens: Tobias, Raimundo, José, Luis e Tatiana. Tobias acaba por se aproximar cada vez mais da família de Raimundo, chegando a se tornar padrinho de José, mas não por amor ao menino apenas, mas também por ter se apaixonado pela filha de Mãe Preta, que ajudou no parto de José.
Tatiana, irmã de José desde pequena dá mostras de não desejar a mesma vida que todas as mulheres que conhece levam, não quer apenas ser mulher do lar parideira de filhos, sonha mais alto, quer estudar e crescer na vida, entrando na política para conseguir melhorias para seu povo e sua terra.
Luis é um filhos de fazendeiro rico, porém é inicialmente desprezado por todos, inclusive pelo próprio pai e a família, o motivo: Luis é aleijado e não pode anda, teve polio e perdeu o movimento das pernas. Somente mais velho, e com a ajuda de seu irmão José, seu maior amigo e defensor, consegue ser respeitado demonstrando seu valor.
Raimundo pai de José consegue com muito trabalho e humildade dar vida melhor aos filhos, por sua competência e honestidade ganha a confiança do patrão Tobias e passa a ser seu braço direito.
Enquanto vemos o desenrolar da vida desses personagens, somos apresentados à mazelas da vida nesses rincões do interior, a exploração do trabalhador rural e pobre, a interferência política sempre em favor dos mais grandes, nunca com o desejo de melhores condições de vida aos mais pobres.
Um momento emblemático do livro é a narrativa da epidemia de sarampo, que fez inúmeras vítimas entre os mais pobres mas não geraram comoção entre os grandes políticos da capital, que se recusavam inclusive a enviar médicos para controlar a situação e cuidar das pessoas. Quando enfim um médico é enviado, ele se depara com a normalização da morte, crianças levam seus irmãos menores para serem enterrados como se fosse algo normal e corriqueiro.
Ao longo da narrativa vamos pouco a pouco vendo esse cenário mudar, com as novas gerações tomando os espaços de poder, com José, Luis e Tatiana assumindo a postura de políticos e conseguindo enormes melhorias para sua terra como a chegada da energia elétrica, a chegada de um banco e as melhores condições de vida e trabalho de seus novos funcionários.
Uma leitura maravilhosa, que em muitos aspectos me lembraram das obras Torto Arado de Itamar Vieira Júnior e Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marquez. A forma de narrar a vida cotidiana e os percalços da vida dessas pessoas trouxe a sensação de estar assistindo a uma novela, uma novela da vida cotidiana. A forma como tudo é narrado, as ligações familiares e de compadrio entre todos os personagens faz com que pareça uma história real, e em muitos aspectos muito da narrativa é de fato real em nosso país. Uma leitura maravilhosa, um pouco demorada, mas valeu cada segundo.
Recomendo demais!
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